Pular Navegação (s)
28/08/2019

BR135 A PROVA MAIS DURA DO BRASIL

BR 135 A ULTRA MAIS DIFÍCIL DO BRASIL!

 

Tomei a liberdade de me apropriar deste título por todos os relatos da referida prova, altimetria e kilometros acumulados, em comparação com as demais ultras no Brasil. Recentemente tive a oportunidade de participar desta grande experiência de estar na BR135 como “pacer” e apoio de dois atletas, Zilma Rodrigues e Luiz Vianna.

 

A prova consiste em um percurso de 230 quilômetros, com desnível acumulado próximo dos

10.000 metros e em 95% em estradas de chão. Soma-se a isto o calor escaldante do verão na nossa região Sudeste e você terá realmente o que faz jus ao nome “ Caminhos da Fé”.

 

Todo este percurso é percorrido por peregrinos (na verdade o trajeto completo tem 400 kms), que seguem anualmente em direção ao Santuário de Aparecida do Norte. Estar neste “caminho” de tantas histórias, por si só já é estonteante.

 

Nos preparativos já vemos a necessidade de uma logística muito acertiva. Errar ou esquecer de qualquer detalhe numa prova dessas pode ser fatal e comprometer todo um ciclo de treinamento destes atletas. Pode acabar com seus objetivos.

 

O GRANDE DIA: ...E pela vigésima vez vamos lá, conferir os itens: caixa térmica, toalhas, lanternas de cabeça, pilhas reserva, coletes refletivos… Tudo ajustado, hora de acompanhar a largada e seguir nossos atletas por distância segura, até a próxima parada. A largada aconteceu às 10 e os termômetros já “gritavam” que era verão, 27 graus.

Trecho 1: “Morro do Deus me Livre”. 33 kms onde os atletas precisam levar suas mochilas de hidratação e alimentação para este percurso, que estava projetado para ser percorrido em 5:30.

Eles chegaram! Hora de tirar a mochila, hidratar, soltar um pouco do peso e direcioná-los para o 2 ponto. Até aqui tudo bem. Ambos bem hidratados e sem sinal de lesões ou algo do tipo. Partiu…

Trecho 2: Pico do Gavião. A altimetria desta montanha e sua beleza exuberante cobrariam seu preço. A subida foi feita em conjunto com o Sidão (outro pacer e apoio) e desceram de lá com as energias renovadas, porém a noite traria sinais que não ia perdoar erros.

Parte 2 Erros: A escolha errada de tênis e meias começaram a “cobrar a conta”. As bolhas nas solas dos pés do Viana, mostraram que seriam implacáveis opositoras na busca do sonho de cruzar a linha de chegada dentro das 48 hrs.

Logística perfeita em alimentos, gelo, repositores energéticos… Mas a falta de iluminação adequada para um percurso como este, de trilha fechada, também foram oponentes por toda madrugada. Tropeços, dificuldade na escuridão e mais uma vez estava provado que numa prova como esta, a logística e produtos corretos fazem toda diferença.

 

Trecho 4: “Ouro Fino” Chegamos ao famoso “menino da porteira” e o dia já começava a nos saudar. A maestria do Sidney em “soltura” e manobras de massagem foram impressionantes. Parecia que nossos atletas estavam iniciando uma prova naquele momento (exceto pelas bolhas).

 

O dia mostraria que era verão e verão no Brasil não se brinca. O asfalto fumegava e os atletas sofriam com o calor. Entrava em ação a equipe: Água gelada, repositores, comida,comida e comida… O “cachecol de gelo”, feito com as bandanas com proteção UV, eram aliados no resfriamento do nosso time.

Torcíamos por uma trégua ou um trecho de sombra que amenizasse o sofrimento dos atletas.

O dia ia findando, o sol se escondeu atrás de montanhas exuberantes e a paisagem tirava nosso fôlego. A chuva veio, formando a lama e deixando o caminho mais difícil e extremamente escorregadio.

Hora de ajustar a estratégia. Colocar roupas adequadas, cortavento, aquecê-los com algum alimento.

Zilma, resiliente como é, enfrentava com força os kms e ultrapassava suas oponentes. Viana sofria com as bolhas. Elas “bombardearam” as solas dos pés mas a mente deste homem se mostrava impressionante em sua força. Decidido, nunca falou em parar. Quando disse que era melhor pensar nesta hipótese a resposta foi “estou bem, não fale mais isso”. Por seu olhar e tom de voz eu percebi que isso não era uma hipótese. Nunca foi, nunca seria!

Noite adentro os kms iam sendo vencidos e a corrida contra o relógio tornou-se algo real. A “folga” havia ido embora e agora não havia mais espaço para erros.

Madrugada, o Sidão novamente toma uma decisão forte e acertada: - Eu vou com a Zilma e vou levá-la até a linha de chegada!

De pronto apoiei e sabia que ia ser um giro “para frente e para traz” com o carro, durante toda noite, apoiando em alimentos e hidratação.

Lá vamos. Sobe,desce, kms ficando para trás, seguimos, seguimos, avante…O dia raiou e fiz o apoio ao Luiz Viana, que neste ponto já atuava com mais dois atletas, ambos “com fome” pela linha de chegada.

Fui ao encontro do Sidão e da Zilma e os encontrei à 8 kms da reta final.

Estou indo, quero ver como isto será. As lágrimas já caíam pois sabíamos que a missão seria cumprida.

45 horas de prova, 4ª colocada feminina!

Nossa “Rainha das Ultras” chegava, nos dando aula de como tirar forças de onde parece não ter mais!

Hora de voltar. Não há muito tempo para comemorar. Temos uma missão ainda!

 

No topo do morro, o último morro, aponta o Viana e mais os valentes que se juntaram. Lá vem eles, ou melhor, lá vamos nós!

Mais uma descida, mais um par de dores e já vai acabar. - Você também conseguiu campeão, não desfaleça aqui!

Não havia mais tempo pra nada. Foque nesta descida e vença ela!

Será que dará? Claro que sim! Alí estava ele, cruzando a faixa de chegada. 47:05 Missão cumprida com sucesso!

Parabéns Zilma e Viana, vocês são exemplos para mim e sempre serão lembrados em momentos de dificuldades. A maneira como as enfrentaram são realmente contagiante.

  Sergio é empresário, ultramaratonista e atleta de trailrunning.

Escreve para blogs e revistas, além de palestras motivacionais, falando de suas experiências vividas.

 

A www.equilibrioesportes.com.br tem tudo que você precisa para esportes de endurance. 

Instagran: @garciasergiointegra @luizcostaviana @zilmarodrigues_

(11) 2625-2999