Curta a aventura vivida em Campos do Jordão!
Eu podia te convencer com uma simples foto, mas resolvi te levar para dentro desta experiência com todas as cores e cheiros.
Eram 14h do sábado quando peguei a estrada para encontrar com meu amigo João Carlos para partirmos para Campos do Jordão.
Com o trânsito livre neste horário, o fluxo seguia rápido, ao som de "Simply the Best" de Tina Tunner e o termômetro do carro marcando 35°C. Na pequena distância entre a cidade de Tremembé e Campos, vimos em pouquíssimos kms a temperatura cair para seus incríveis e notórios 15°C.
Foi impressionante sair do carro e sentir o frescor e brisa que estava lá em cima, na Serra.
Com seus 1.620 mts de altitude e sendo a cidade mais alta do Brasil, Campos parece ter um ar-condicionado natural ligado o tempo todo.
As casas são charmosas, com seu estilo colonial e todos os forros com sua proteção em madeira, evitando que você congele durante a madrugada.
Mas você veio aqui pra ler e falar de montanha: Retiramos o kit no centro da cidade e, sem delongas, fomos para pousada que estávamos hospedados, não sem antes passar pelo mercado para nos abastecermos para o dia seguinte.
Acabamos não desfrutando do charme e da gastronomia da cidade mas definitivamente não recomendo passar por Campos sem tirar ao menos 01 dia para fazer isto. A cidade é rica em diversidade gastronômica e das mais preparadas do Brasil para receber o turismo, com atrações das mais variadas.
Às 5h de um domingo e com a temperatura marcando 6°C partimos para o Horto Florestal, numa das partes mais altas da cidade.
A largada da distância dos 42 Kms se deu às 07h, não sem antes ser entoado o hino nacional, ao qual bem no instante de sua execução, o sol pintou os seus primeiros raios que iriam ensolarar aquele dia.
Nossa primeira parte seria por dentro do "Bosque Vermelho", um complexo de araucarias lindíssimas e imponentes que circundam aquelas montanhas de Campos.
Dada a largada, a névoa se misturava ao som das passadas rápidas. O vento gelado que penetrava as narinas deixava a respiração ainda mais ofegante.
Aos poucos o corpo vai encontrando ritmo. O relógio mostra os batimentos se ajustando e, mesmo que você não tenha um, sentirá isto por percepção de esforço.
O frio insistia em ficar, mas os raios iam desanuveando tudo ao redor. Lembrei do ditado de minha velha vó: "neblina baixa, sol que racha".
Realmente teríamos um dia quente e seria interessante conseguir aproveitar este momento de clima agradável, mas sempre cuidando para não faltar no final.
Na corrida de montanha, vai vencer quem souber dosar melhor suas energias para que não falte ao final.
De nada adianta uma primeira parte extremamente rápida se o seu corpo vai sentir este impacto na segunda metade. Com toda certeza, você será alcançado e ultrapassado.
Há quem vai para uma corrida destas somente para contemplação. Embora eu seja do time da competição, confesso que o que contempla desfruta muito mais.
Cada uma tem suas belezas e seus encantos. Me vislumbra correr fazendo conta de batimentos, pace, tempo de perda, possibilidades e o medo de ser alcançado.
Dentro da mata, a sensação única de "caçar e ser caçado" é de uma beleza sem igual.
Passamos a primeira parte com pouca dificuldade. As trilhas eram amplas e com poucos trechos de bosques, mas nem por isto deixando de ser belo.
Ao contrário, cada vez mais a paisagem se abria para nós, mostrando o que estava por vir durante aquele dia.
É época de pinhão e os chão em determinadas partes se forram destas delícias.
Seríamos recompensados com paisagens gloriosas.
O cheiro das montanhas de Campos é único. É um cheiro de "limpo", "puro". Talvez a santidade tenha este cheiro, imaculado.
Acima de 2.000 mts de altitude, você sente seus pulmões se abrirem para forçar a respirar mais, informando que estava doendo alí, mas que você terá benefícios desta odisseia quando descer.
A 2° parte da prova começa a testar seus limites. Toda aquela "leveza" e tranquilidade da primeira metade foi trocada por subidas duras e algumas técnicas.
Com 27 kms nas costas, o corpo já sente o esforço feito por quase 3 horas. O dia já está aberto e agora quente. Não tão quente quanto o que temos enfrentado em São Paulo, porém sentindo muito a mudança brusca de temperatura.
Já não é tão suave correr pelas trilhas como estava 3 horas atrás.
Ao final de uma subida longa e dura, e quando pensamos que havia acabado e um incremento de mais um final super técnico, chegamos ao que parecia ser o pagamento de tudo aquilo.
A paisagem se abriu como se tivesse se aberto um portal para contemplação. Se pedissem para qualquer um que estava alí desenhar a paisagem e o momento ideal para aquilo, jamais sairia com tanta perfeição.
Tamanha beleza me fez parar. Por um instante não queria mais correr nem competir. Por um instante eu queria contemplar, receber, a-gra-de-cer!
Tirei o celular e a primeira coisa que saiu na câmera foi uma risada. Ela podia traduzir mais de mil palavras do que estava pensando naquele momento: "Como Deus é bom. Isto jamais seria obra do acaso. O acaso não consegue ser tão perfeito"
Às vezes parece que ganhar não é exatamente o lugar mais alto do pódio. Naquele domingo, naquele momento alí, todos ganhamos.
Todo resto da prova virou sorrisos, alegria, agradecimentos por aqueles momentos.
Correr na montanha é realmente único.
Eu podia te convencer a correr montanhas somente com uma imagem, mas eu resolvi te trazer comigo para esta viagem incrível.
Ah, já ia me esquecendo: Terminei a prova com 4:25:00 e na 4° colocação. Mas eu sei que isto pra você não importa.
Mais legal e importante que isto, foi navegar e estar ali comigo, ainda que por pensamentos e um breve tempo/relato.
Quem sabe na próxima não nos encontramos lá, pessoalmente?
Quem sabe...
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